Fazenda Fortaleza
A História...






Fazenda Fortaleza - Bico de Pena de Tom Maia, publicado no livro "Vale do Paraíba - Velhas Fazendas"
Tom Maia e Sérgio Buarque de Holanda
Sede da Fazenda Fortaleza
Foto de Lety
O engenho Conceição ergueu-se na margem esquerda do Rio Paraíba, entre 1 798 e 1801. Destinado a ter um dos maiores latifúndios da capitania, suas terras se estendiam das barrancas do Paraíba até o alto da Serra da Mantiqueira, chegando a possuir 14 400 alqueires. Foi seu proprietário o capitão Mor Manoel José de Melo, que, em seu tempo, foi o homem mais rico da então Vila de Guaratinguetá e um dos mais abastados senhores de escravos de São Paulo. O declínio que se observa a partir de 1 822 ocorreu com a introdução da lavoura cafeeira no Vale do Paraíba. O engenho de açúcar mais importante do "norte paulista" e um dos principais da província foi desmembrado por partilhas e vendas, dando origem a várias fazendas de café, entre elas a Fazenda Fortaleza.
Fazenda Fortaleza
Foto de Lety
Localizada no Bairro das Posses, em Piquete, a Fortaleza foi comprada, em 1 846, pelo guaratinguetaense Francisco de Assis de Oliveira Borges, futuro Visconde de Guaratinguetá, que nela formou extensos cafezais. Este era um bem sucedido homem de negócios do Vale do Paraíba, pois 85% do café da região escoado pela barreira do Taboão de Cunha em direção ao Porto de Parati, no ano financeiro de 1 859 - 1 860, eram de sua produção. Desde 1 856 a Fazenda Fortaleza era o principal centro de exploração agrícola, dentre todas as propriedades de Oliveira Borges que, com seus 300 alqueires paulistas, mantinha uma diversificação de culturas: cana de açúcar, arroz, feijão, milho, mandioca e algodão, com predomínio do café.
Ruínas de uma das faxinas onde o café era colocado para secagem
Foto de Lety
Compunha ainda a fazenda, um engenho de açúcar e máquinas de beneficiar café (ventilador, monjolo e moinhos). o transporte do café era assegurado por 28 bestas que conduziam o café até o porto de Parati.
Sede da Fazenda Fortaleza
Foto de Lety
Nos contrafortes da Mantiqueira, aos pés do Focinho do Cão, a fazenda era conhecida pelo rigor de seus invernos. Dezessete carneiros forneciam lã para a confecção de mantas, cobertores e japonas. Era muito procurada em ocasião de doença ou de convalescença, devido ao clima. Mais de trezentos mil pés de café eram cultivados por 168 escravos. Cinqüenta e dois por cento dos negros da fazenda eram africanos e o restante, crioulos, ou seja, eram da terra. Deles, 65% eram homens, sendo que a maioria era empregada nos serviços de roça, mas havia três carpinteiros, um ferreiro, um barbeiro, um atarracador, um rebocador e um feitor.
Calçamento de pedras construído por escravos
Foto de Lety
Informação interessante diz respeito à assistência médica dispensada aos escravos. A Fortaleza mantinha um médico e um enfermeiro, que regularmente atendiam os doentes, senhores ou cativos, deslocando-se da cidade em horários diversos do dia ou da noite. Ali, isolado de todos, acompanhado de sua fiel escrava Leopoldina, faleceu um dos filhos do Visconde, Dr. Joaquim de Assis de Oliveira Borges, vitimado por afecção cutânea que tentara, sem êxito, tratar na Europa. Foi também na Fortaleza que cresceu Henriqueta Augusta Monteiro, neta do Visconde. Esta, em 05/03/1867, casou-se no oratório da vizinha Fazenda do Carmo, com o Comendador Custódio Vieira da Silva, proprietário da Fazenda da Estrela.
Conhecer a sede da Fortaleza e um pouco de sua história é resgatar um passado de riquezas construído pelo ciclo do café. É enriquecer-se culturalmente.
Fonte de consulta: MOURA, Carlos Eugênio Marcondes - O Visconde de Guaratinguetá.
Autor: A. C.
Texto publicado no Jornal "O Estafeta"
Piquete, SP - abril de 1 998